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Foto do escritorFelipe Tavares

"E se quebrar?!"​ - Os verdadeiros riscos dos ativos

Atualizado: 16 de ago. de 2021

Quase que diariamente meus novos clientes demonstram certa falta de confiança com a segurança do mercado financeiro brasileiro, um dos mais seguros do mundo e referência internacional. Segundo a pesquisa anual "Raio X do Investidor Brasileiro", da ANBIMA, 48% dos brasileiros priorizam a segurança na hora dos investimentos, em detrimento a outros fatores, como rentabilidade e liquidez.

Não os culpo. O Brasil já passou por vários eventos que colocaram a credibilidade do sistema financeiro local à prova. Confisco da poupança, crise da marcação a mercado, e a quebra de alguns bancos e instituições financeiras. É totalmente natural esse tipo de questionamento por parte dos investidores.

Ao mesmo tempo em que todas essas válidas desconfianças são colocadas em pauta, o próprio investidor precisa tomar alguns cuidados com as ameaças reais, entendendo um pouco mais do que está por trás dos produtos em que está alocando seu capital. Irei elencar o que, em minha opinião, deve ser considerado perigoso em cada investimento ou instituição financeira.


Corretoras de Valores


Uma corretora de valores é como um "shopping" de investimentos. Ao entrar em uma dessas, o investidor se depara com milhares de opções de aplicações: ações, títulos públicos e privados, fundos de investimento e fundos imobiliários são alguns exemplos. Muitos investidores têm medo que a sua corretora quebre, porém essa não deveria ser uma preocupação das mais relevantes. Se sua corretora quebrar, você pode migrar seus valores mobiliários (ações, títulos públicos, CDB's...) para outra, através de uma STVM - Solicitação de Transferência de Valores Mobiliários. Um processo simples, basta que uma carta seja preenchida e assinada pelo investidor, autenticada e enviada à instituição de origem para que todo o processo seja concluído por volta de dois dias úteis. Isso acontece pois os ativos do investidor não ficam alocados na corretora. Ao comprar um CDB, o dinheiro vai para o banco emissor, ao comprar um título do Tesouro, o dinheiro vai para o Governo... O problema seria maior caso o investidor ficasse com o dinheiro parado na conta corrente da corretora que, em caso de quebra dessa instituição financeira, poderia ser que o cliente não conseguisse reaver o valor investido. Solução? Sempre deixe seu dinheiro investido.

Ok, se a corretora quebrar, temos solução. Mas e os produtos que ela oferece?


Fundos de Investimento

O primeiro ponto que precisamos abordar é como funciona um fundo de investimento. Um fundo nada mais é do que uma reunião de cotistas com um propósito em comum. Gosto de fazer alusão a uma fazenda. Por exemplo, imagine um investidor "X" que possui interesse em aplicações agropecuárias. O investidor se junta com outros interessados para comprar um terreno que terá plantações de soja, algodão e café.Essa fazenda é inicialmente emitida em 100 cotas, cada uma no valor de R$100. O investidor "X" possui 20 cotas, ou 20% da fazenda e tudo que ela der de lucros ou prejuízos. Outro investidor tem 50 cotas, e o último, por sua vez, 30 cotas. Após 1 ano, os lucros foram de 10%, e assim as cotas agora valem R$110,00. Se algum novo investidor quiser entrar nesse investimento terá que comprar novas cotas com base nos valores atuais, ou seja, R$110,00. E os recursos que entrarem serão investidos em novas terras e plantações. Já se alguém quiser realizar seus ganhos e sair do investimento, será vendido um pedacinho das terras e plantações para pagar o resgate das cotas. Mas quem escolhe quais terras comprar ou vender? Um gestor. É ele quem possui o papel de escolher quais as terras, qual o melhor algodão, soja, café e pesticidas para alocar na fazenda. Quem vai "supervisioná-lo" é um administrador, que por sua vez terá o dever de calcular a rentabilidade da fazenda, que já será líquida de todos os custos e taxas - como o pagamento do gestor e do alvará de bombeiros, para o funcionamento da fazenda ser permitido (nenhum dos prestadores de serviço vai trabalhar de graça, é claro) - A única taxa não inclusa será o imposto de renda, que será pago em caso de lucro. Cada tipo de fazenda conta com um cálculo de imposto específico. Além disso, o administrador também irá certificar que o gestor esteja realmente realizando investimentos em soja, algodão e café, como está no regulamento inicial da fazenda. Caso a gestão queira comprar cabeças de gado, o administrador não vai permitir. Uma terceira figura também aparece, o custodiante, esse será quem vai guardar toda a safra da fazenda em segurança. E por último, o auditor, que vai verificar se todas as contas da fazenda estão em ordem.

E assim também são os fundos de investimento. Um gestor vai tomar as decisões de investimento, um administrador vai ficar responsável pelo funcionamento correto do fundo e cálculo da rentabilidade, um banco custodiante vai guardar os valores mobiliários adquiridos pelo fundo e o auditor vai verificar anualmente se está tudo correto - o fundo pagará por todos esses prestadores de serviço e algumas taxas, como a despesa de taxa de fiscalização CVM, e a taxa de performance, paga em caso do gestor bater sua meta - o benchmark - (o CDI, por exemplo). O resultado divulgado é sempre líquido de todos os custos, menos do imposto de renda. Mas o que acontece se uma dessas partes falir? Nada, pois o patrimônio das instituições financeiras não se mistura com o patrimônio do fundo, que é detido pelos cotistas. Em caso de quebra de qualquer uma das partes citadas, basta os cotistas decidirem um novo prestador de serviço, em assembleia geral. O risco está na desvalorização dos ativos que compõe a carteira do fundo - A soja desvalorizar, uma praga atacar a produção do algodão, etc. O importante então é olhar fundo a fundo qual o risco dos ativos que compõe a sua carteira. Risco de mercado, crédito, diversificação, liquidez...


CDB, Poupança, LC, LCI e LCA


São ativos emitidos por instituições financeiras que contam com a proteção do FGC. Aqui você pode conferir um outro artigo que escrevi sobre esse "seguro" e suas limitações. No caso de quebra de um banco - ou financeira - associado ao Fundo Garantidor de Crédito, basta acionar o banco pagador (que pode ser conferido no site oficial do FGC) para receber o valor investido acrescido da rentabilidade até o dia da quebra. O risco, então, corresponde basicamente a saúde da instituição financeira investida, que é mitigado pela proteção mencionada. Muitos investidores priorizam esse tipo de investimento por conta dessa segurança extra. O importante é ter em mente que não é apenas essa classe de ativo que é segura, ao contrário dos que muitos investidores menos experientes pensam.


Debêntures, CRI e CRA


São títulos de crédito emitidos por instituições não-financeiras. Nesses casos, o ideal é o investidor verificar, antes da aplicação, a existência ou não de garantias, e buscar entender bem a operação, ficando atento ao prazo de vencimento, e como é feito o pagamento de juros e amortizações de cada papel. Além disso, é indicada a forte diversificação nesse tipo de título, evitando assim uma concentração muito pesada da carteira do investidor em um ativo que pode dar default. Uma boa alternativa é investir em fundos de investimento ou fundos imobiliários que tenham esses ativos na carteira, sendo muito mais acessíveis (aportes mínimos reduzidos), com maior liquidez, gestão profissional na escolha dos títulos e, normalmente, grande diversificação.


Ações


Acredito que seja o risco mais bem compreendido pelo investidor. O primeiro risco é o da volatilidade, o famoso sobe e desce da bolsa. O segundo é inerente a empresa investida. Projetos que não dão certo, setor regulado, entrada de novos players no mercado, aumento do custo das matérias primas... Empresas são organismos vivos, vários e vários fatores podem beneficiá-las ou prejudicá-las. Também existem riscos de liquidez, caso o investidor compre uma ação pouco negociada e não consiga vendê-la, além claro, de todos os riscos chamados não-diversificáveis (também conhecido como risco sistêmico). Uma guerra, uma catástrofe natural, entre outros.


Fundos Imobiliários

Existem diversos tipos de fundos imobiliários, porém podemos dividi-los em duas grandes classes: fundos de "tijolo" e fundos de "papel". Na primeira classe mencionada, encontram-se os fundos de ativos reais, onde os FII's comprarão os imóveis e os aluguéis serão divididos entre os cotistas, proporcionalmente. Alguns exemplos são os fundos do setor de logística, shopping centers, lajes corporativas e empresariais, cada um desses com seus riscos e oportunidades. O setor de shoppings, por exemplo, costuma ter mais sensibilidade ao fator consumo (se o consumo da população aumentar, os lojistas aumentam suas vendas, aumentando assim o faturamento que, é repassado, em parte, para o fundo).


Já o setor de logística possui riscos mais acentuados quando o assunto é vacância, pois normalmente possuem uma quantidade menor de inquilinos nos grandes galpões e, qualquer um que deixe o fundo, pode acarretar em uma perda de receita forte. Já os fundos chamados de "papel" são os que irão investir em títulos ligados ao mercado imobiliário, em sua grande maioria, CRI's (Certificado de Recebíveis Imobiliários), apesar de também poderem investir em LCI's e LH's. Os dois principais riscos, nesse caso, são as empresas emissoras dos títulos que o fundo detém, quebrarem - o famoso default - ou então as taxas contratadas pelo fundo deixarem de fazer sentido. Por exemplo, se a carteira de um fundo desse tipo tiver uma rentabilidade média de IPCA + 7%, e no mercado o Tesouro Inflação (NTN-B) estiver negociando a IPCA + 10%, esse fundo perderá atratividade. Além dos fatores mencionados, todos os FII's estão sujeitos ao risco de mercado (também são como ações negociadas em bolsa, apesar de serem menos voláteis), desvalorização dos preços dos imóveis, perda de atratividade devido a altas nas taxas de juros, desaceleração econômica, etc.


Previdência Privada

A previdência privada funciona como um fundo de investimento, porém com duas diferenças práticas: tributação e o papel da seguradora. Um risco claro que a previdência possui é o de tributação. É possível que o investidor sofra com uma maior alíquota de imposto de renda no curto prazo. Além disso, a seguradora é a entidade que realiza o investimento pelo cliente - Então, no caso da quebra de uma seguradora, o dinheiro do cliente está, sim, em risco. Vale destacar que a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), que regula e fiscaliza os fundos de previdência, faz um trabalho bastante sério e rigoroso, mitigando muito os riscos que o investidor possui ao investir em previdência privada. Porém é sempre bom optar pelas seguradoras mais sólidas, para um sono tranquilo.


Títulos Públicos


São os investimentos mais seguros em relação ao risco de crédito. O investidor é credor do Governo Federal, que em caso de necessidade, pode até imprimir moeda para pagar suas dívidas (mesmo causando inflação). Existem vários tipos de títulos públicos, cada um deles com seus próprios riscos e benefícios. O Tesouro SELIC (LFT), por exemplo, é um título que, como o nome indica, vai acompanhar a variação da taxa SELIC, a nossa taxa básica de juros. Esse é o único título que o investidor, nominalmente, "não pode" perder dinheiro (considerando que sempre tenhamos uma taxa de juros maior que zero), por ser um investimento pós-fixado. Os demais títulos do Tesouro, como as NTN-B's (Tesouro IPCA+) e LTN's (Tesouro Préfixado) possuem risco de mercado de acordo com o sobe e desce das taxas de juros (não da SELIC especificamente, mas sim, da curva de juros futura, um tema para outro artigo). Porém, caso queira, o investidor pode esperar até o vencimento do título, para obter a valorização contratada na hora da compra. Se você quiser saber como esses títulos de renda fixa oscilam, pode acessar aqui outro artigo de minha autoria. Já as taxas atuais dos títulos podem ser consultadas diretamente no site do Tesouro Direto.


Por fim...

Acredito que nosso mercado possui mecanismos de segurança de altíssima qualidade para o investidor. É necessário entender quais os riscos inerentes de cada ativo e saber se eles são compatíveis com o perfil do investidor, seus objetivos e necessidades. Só assim é possível tomar qualquer decisão de investimento com segurança.

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